segunda-feira, 22 de outubro de 2007

As paisagens incontempláveis

A paciência é um gato a engolir a tarde
num trago de ócio, esse casulo suspenso
sob a esteira das acácias onde o amarelo amadurece
aguardando, sabe-se lá que carta de destinos,
no sono circular das esperas e dos deslumbramentos.
Havia de me pertencer esse saber felino
de só pisar a erva no rasto seguro
e levitante dos instintos e dos pressentimentos.
Havia de cobiçar com tamanha agilidade,
o espólio da serenidade que só nos confins
dos seus olhares de vidro solar
se pode tomar quinhão.
Só com a paciência voltejante dos gatos
se podem beber as paisagens incontempláveis,
as que se movem do êxtase da água
para os domínios assombrosos do coração.

Paulo Ferreira Borges

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