sábado, 27 de dezembro de 2008

Soneto do gato morto

Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de electricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.

Vinicius de Morais

1 comentário:

João Barbosa disse...

adorei o blogue, mas ainda não o vi todo. soube particularmente bem, porque tenho ao colo uma das minhas gatas :-)
.
.
.
fiquei feliz