terça-feira, 17 de março de 2009

Com o dinheiro que lhe coube depois do litigioso divórcio resolvido, Simone decidiu-se por comprar um andar num restaurado edifício à Rua do Capelão, no Bairro da Mouraria.
A rua, carregadinha de simbolismo fadista — basta dizer que três passos mais acima viveu Severa — tem um inconveniente; a atracção dum bairro desenfreadamente procurado por turistas que à noite enchem tabernas e bares, e cantam fado encharcados de cerveja.
A minha Calçada dos Mestres é o silêncio na sua máxima perfeição. E, por isso, achamos que o nosso futuro em comum passa por Simone alugar o andar onde vive com o filho e transferir-se para Campolide, com as suas armas e bagagens.
Com este propósito desenhamos vários estudos, configurando as minhas 4 divisões ao gosto requintado da minha futura mulher; e ontem, depois de termos jantado numa tasquinha da Mouraria, resolvemos dar um pulo a minha casa para conferir definitivamente a medida do quarto que se destina ao André.
Entrámos no patamar.
E de repente, como inesperado relâmpago, a matrona sai de casa de D. Leopoldina e, aos gritos histéricos, aponta-me o dedo.
"Lá vem ele, o malandro, o canalha, o sem vergonha…"
lp

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